Carta do editor

novembro-dezembro de 2012

Graça e Paz!

Na celebração dos 50 anos do Concílio Vaticano II, o papa Bento XVI convoca toda a Igreja a celebrar o Ano da Fé. Isso nos inspira a todos o aprofundamento nas riquezas proporcionadas pelo concílio para a vivência da fé na atualidade, fruto de seu empenho para responder às inquietações e aos desafios dos novos tempos e tornar a Igreja e sua doutrina compreensíveis e significativas para o presente e para o futuro.

Vemos hoje certa frustração das pessoas com muitas promessas da modernidade que não se realizaram. Por exemplo, o racionalismo garantiria a redenção da humanidade única e exclusivamente pela razão, ao passo que a tecnologia seria a solução para todos os problemas. Se trouxeram benefícios, produziram também a bomba atômica, o holocausto, grandes guerras, a destruição da natureza. A redenção que assim se ofereceria a todos continua limitada a pequena parcela da população mundial, enquanto, por outro lado, persistem as ocorrências de trabalho escravo ou semiescravo em pleno século XXI e enormes contingentes de trabalhadores padecem terrível exploração e miséria, embora sejam os produtores das mais avançadas tecnologias. São perceptíveis as manifestações de vazio existencial e de carência de transcendência.

A modernidade negou em grande parte a religião, a fé, a transcendência e, sobretudo, certas expressões religiosas que para o mundo moderno eram incompreensíveis ou injustificáveis. Paradoxalmente a fé ressurge hoje com múltiplas feições, até mesmo de modo um tanto quanto “selvagem”, em uma inundação barata de experiências religiosas que banalizam o sagrado, banalizam a mensagem de Cristo, transformando-a em meros slogans de marketing apelativo e formas de enriquecimento material. A busca de sentido para a vida e de transcendência também muitas vezes se reduz à ilusão do consumismo, do poder, do prazer, da fama e da posse de coisas materiais, que, transformados em absoluto, tendem a produzir frustração, entre outros problemas. Da mesma forma, cresce o número dos que se declaram sem religião ou vivem a fé a seu modo. Muitos cristãos perderam ou acham que perderam a fé, por terem uma concepção equivocada dela ou a vivenciarem de maneira imatura. A racionalidade avançou, mas a experiência religiosa de muitos continuou infantil; por isso, diante dos primeiros questionamentos, abandonam a Igreja e a vivência da fé. Considerável número de pessoas vê a Igreja de forma negativa, como instituição antiquada.

O Vaticano II empreendeu grande esforço para tornar a fé compreensível para o indivíduo da modernidade e tornar a Igreja e suas estruturas mais aptas a dialogar com este mundo em transformação e ajudar as pessoas de nossa época. Como Igreja, temos muita riqueza teológica e espiritual a oferecer. Em seu artigo, padre Libanio nos diz que a revelação cristã tem profundidade suficiente para dar respostas de maior consistência que simplesmente afagar o desejo do sagrado. A prática de Jesus Cristo, de muitos cristãos ao longo dos séculos, e o legado do Vaticano II trazem intuições fantásticas para responder à secura científica e tecnológica, à falta de sentido e à busca de transcendência. Que no Ano da Fé possamos traduzir toda a beleza da fé cristã para as pessoas de hoje, “para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo” (Porta Fidei, n. 2). Não tornemos a beleza da fé cristã prisioneira do passado, de pompas e vestes vistosas, de expressões de poder, luxo e arrogância que produzem questionamentos e distanciamento, mais que aproximação de quem está fraquejante na fé ou alheio à vivência religiosa.

Pe. JaksonFerreirade Alencar, ssp

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